segunda-feira, 25 de novembro de 2013

O Grilo Tagarela.


                                                                    

                                                                                                                          Maria Alice Lima Ferreira

 Rosas de todas as cores espalham-se nos canteiros à sua frente. Então, num impulso, Alice  se levanta e  se põe a correr por entre os canteiros, até que, para e começa a colher  rosas,  uma de cada cor, com as quais prepara, uma guirlanda, trançando os ramos compridos, de sorte que consegue prendê-las em sua cabeça, sobre os cachos de seus cabelos pretos. Puxou do bolso um espelhinho e se admirou do enfeite, que produzira. Com os seus olhinhos negros, emoldurados por cílios espessos da mesma cor e  sobrancelhas cerradas, perfeitas, o narizinho arrebitado, a boca carnudinha e vermelha, como se tivesse passado batom, a menina era um encanto. Vestia um vestido de  poá, com fundo branco e as bolinhas verdes, com mangas franzidas no ombro, de forma que ficavam cheias até terminarem em uma pala branca, bem rente aos seus braços,um pouco abaixo dos ombros. A saia era franzida também e na cintura havia duas faixas de seda branca, uma de cada lado, formando um belo laço em suas costas.

  Ela tentava ver-se inteira no espelhinho, que retirara do bolso, do lado direito de sua saia. É claro que não conseguia. Então, deteve-se mais na cabeça emoldurada pelas rosas e de onde desciam seus cachos brilhantes e sedosos. De repente, ouviu uma voz fraca a chamar-lhe:

  ▬ Alice! Alice!

  Procurou com os olhos, a ver se via quem lhe chamava, na direção da voz e não viu nada.

  ▬ Estou aqui, menina, veja-me!

  Numa nova procura, ela deu de cara com um grilo, sobre uma rosa vermelha, acenando-lhe.

 ▬ Ah, já ouvi falar de você... É o Grilo Falante, não é?

 ▬ Errou. Sou o primo dele. Sou o Grilo Tagarela.

 ▬ Por onde anda o Grilo Falante?

 ▬ Ah, ele anda com Pinóquio, nos desenhos animados  da televisão..

 ▬ Você não encontra com ele?

  ▬ Só de vez em quando. Eu não tenho muito tempo.

  ▬ Não? O que você faz?

  ▬ Visito os amigos. Você  quer ser minha amiga, Alice?

  ▬Quero. Você vem me visitar? Como você sabe o meu nome?

 ▬ Sei o seu nome, desde o dia, que você esteve aqui, com a sua amiga Maíra. Ouvi o nome dela e o seu, enquanto conversavam. Virei lhe visitar sim.

 ▬ Por que você não falou  com a gente, então?

 ▬ Porque a Maíra estava perto de você. Só você tem o poder de conversar comigo. Então, ela pensaria que você estava louca.

  ▬ E como você sabe que eu tenho este poder? Por que eu tenho este poder?

  ▬ Isto eu não sei: não sei como sei nem sei porque você tem esse poder.

   ▬ Chiiiiiiiii! Você me deixou zonza!

   ▬ Há muito mistério no Universo, Alice. Sei que olho a pessoa e sinto que ela vai me escutar. Coisa rara hoje em dia, quando ninguém ouve o grito da Natureza, pedindo socorro.

  ▬ Ah, então é ela!

   ▬ Ela o quê?

   ▬ Que grita assim: Aliceeeeeeeeeeeeeeeeee!!! É um grito fraquinho e desesperado.

   ▬ É ela sim. Você nunca respondeu? Ela quer a sua ajuda para continuar a existir. Se ela morrer, morreremos todos nós, que somos parte dela: os animais e os humanos. Você pode ajudá-la. É só fazer a campanha do lixo reciclável e já estará colaborando.

  ▬ Então, vou sim colaborar, juntando a minha turma de amiguinhos e pedindo pra eles separarem o lixo reciclável em suas casas e eu vou separar na minha.

  ▬ Mas, não conte que falou comigo e nem que ouviu a Natureza, senão pensarão que você é louca.

  ▬ Está certo. Não contarei nada. Mas, você virá me visitar outra vez?

  ▬ Sim, virei toda quinta-feira, neste mesmo horário, está bem? Agora, adeus! Já vou! – disse-lhe, atirando-lhe um beijo, com as duas patinhas.

  Alice, encantada com aquele encontro, voltou para casa e, toda animada, pôs-se ao telefone, convidando toda a sua turma para uma reunião, no quintal de sua casa.

  Todos compareceram e a reciclagem do lixo passou a ser um sucesso em seu bairro.

   Alice encontrava-se sempre com o Grilo Tagarela e com ele teve muitas outras ideias boas, sempre ajudando a Mãe Natureza.