Maria Alice Lima Ferreira
Rosas de todas as cores espalham-se nos canteiros à sua frente. Então, num impulso, Alice se levanta e se põe a correr por entre os canteiros, até que, para e começa a colher rosas, uma de cada cor, com as quais prepara, uma guirlanda, trançando os ramos compridos, de sorte que consegue prendê-las em sua cabeça, sobre os cachos de seus cabelos pretos. Puxou do bolso um espelhinho e se admirou do enfeite, que produzira. Com os seus olhinhos negros, emoldurados por cílios espessos da mesma cor e sobrancelhas cerradas, perfeitas, o narizinho arrebitado, a boca carnudinha e vermelha, como se tivesse passado batom, a menina era um encanto. Vestia um vestido de poá, com fundo branco e as bolinhas verdes, com mangas franzidas no ombro, de forma que ficavam cheias até terminarem em uma pala branca, bem rente aos seus braços,um pouco abaixo dos ombros. A saia era franzida também e na cintura havia duas faixas de seda branca, uma de cada lado, formando um belo laço em suas costas.
Ela tentava ver-se inteira no espelhinho, que retirara do bolso, do lado direito de sua saia. É claro que não conseguia. Então, deteve-se mais na cabeça emoldurada pelas rosas e de onde desciam seus cachos brilhantes e sedosos. De repente, ouviu uma voz fraca a chamar-lhe:
▬ Alice! Alice!
Procurou com os olhos, a ver se via quem lhe chamava, na direção da voz e não viu nada.
▬ Estou aqui, menina, veja-me!
Numa nova procura, ela deu de cara com um grilo, sobre uma rosa vermelha, acenando-lhe.
▬ Ah, já ouvi falar de você... É o Grilo Falante, não é?
▬ Errou. Sou o primo dele. Sou o Grilo Tagarela.
▬ Por onde anda o Grilo Falante?
▬ Ah, ele anda com Pinóquio, nos desenhos animados da televisão..
▬ Você não encontra com ele?
▬ Só de vez em quando. Eu não tenho muito tempo.
▬ Não? O que você faz?
▬ Visito os amigos. Você quer ser minha amiga, Alice?
▬Quero. Você vem me visitar? Como você sabe o meu nome?
▬ Sei o seu nome, desde o dia, que você esteve aqui, com a sua amiga Maíra. Ouvi o nome dela e o seu, enquanto conversavam. Virei lhe visitar sim.
▬ Por que você não falou com a gente, então?
▬ Porque a Maíra estava perto de você. Só você tem o poder de conversar comigo. Então, ela pensaria que você estava louca.
▬ E como você sabe que eu tenho este poder? Por que eu tenho este poder?
▬ Isto eu não sei: não sei como sei nem sei porque você tem esse poder.
▬ Chiiiiiiiii! Você me deixou zonza!
▬ Há muito mistério no Universo, Alice. Sei que olho a pessoa e sinto que ela vai me escutar. Coisa rara hoje em dia, quando ninguém ouve o grito da Natureza, pedindo socorro.
▬ Ah, então é ela!
▬ Ela o quê?
▬ Que grita assim: Aliceeeeeeeeeeeeeeeeee!!! É um grito fraquinho e desesperado.
▬ É ela sim. Você nunca respondeu? Ela quer a sua ajuda para continuar a existir. Se ela morrer, morreremos todos nós, que somos parte dela: os animais e os humanos. Você pode ajudá-la. É só fazer a campanha do lixo reciclável e já estará colaborando.
▬ Então, vou sim colaborar, juntando a minha turma de amiguinhos e pedindo pra eles separarem o lixo reciclável em suas casas e eu vou separar na minha.
▬ Mas, não conte que falou comigo e nem que ouviu a Natureza, senão pensarão que você é louca.
▬ Está certo. Não contarei nada. Mas, você virá me visitar outra vez?
▬ Sim, virei toda quinta-feira, neste mesmo horário, está bem? Agora, adeus! Já vou! – disse-lhe, atirando-lhe um beijo, com as duas patinhas.
Alice, encantada com aquele encontro, voltou para casa e, toda animada, pôs-se ao telefone, convidando toda a sua turma para uma reunião, no quintal de sua casa.
Todos compareceram e a reciclagem do lixo passou a ser um sucesso em seu bairro.
Alice encontrava-se sempre com o Grilo Tagarela e com ele teve muitas outras ideias boas, sempre ajudando a Mãe Natureza.